Em todas as profissões que conheço o currículo adquirido ao longo da
vida costuma ser valorizado pelas entidades empregadoras. Sim, em todas
as profissões, menos uma - PROFESSOR!
A contratação dos
professores não tem como princípio fundamental as aprendizagens e
competências adquiridas ao longo da vida e enunciadas no curriculum vitae do indivíduo, mas aquilo a que chamam "graduação profissional".
Mas afinal o que é isto?
Desenganem-se
aqueles que pensam que a graduação profissional abarca todos os feitos
do indivíduo enquanto professor. A graduação profissional define-se,
essencialmente, com base na nota da formação inicial, a que acresce um
valor por cada ano de serviço. Daí que quem tem mais tempo de serviço
(que também costuma ter mais idade) esteja, normalmente, colocado. Na
verdade, em bons tempos, muitos foram os que ficaram efetivos apenas
porque sim, ou melhor (para não ser mázinha!), porque eram necessários.
De facto, essa necessidade levou a que se ficasse vinculado efetivamente
a uma das profissões que maior dinamismo e atualização profissional
necessita. Muitos brilharam e continuam a brilhar, lutando para que a
escola pública seja uma oferta de sucesso. Outros, porém, pararam no
tempo, também nunca foram muito empreendedores, muito menos dinâmicos...
Mas, na verdade, continuam lá, com o seu lugar garantido e de certa
forma inabalável, já que possuem "milhentos" anos de serviço, sendo essa
a condição essencial para o vinculo. Outros, ainda, são vencidos pelo
cansaço de umas das profissões mais desgastantes que existem, deixam o
barco andar ao sabor do vento, tentando vislumbrar a tão almejada
reforma, que teima em não chegar. Este é, na verdade, o retrato do
elenco da escola pública portuguesa da atualidade!
O
Ministério exclui ano após ano os contratados. Os contratados que, na
verdade, na maior parte das vezes, são autênticas lufadas de ar fresco
nas escolas públicas onde o marasmo, por vezes, teima em jazer por
inúmeros anos de serviço acumulados num só lugar (muitas vezes sem
grande esforço para isso!). Muitos são os contratados que dinamizam,
criam, empreendem os mais diversos projetos procurando a atualização,
modernização e o melhoramento das escolas onde estão inseridos.
Continuam, sim, a sonhar ver o seu trabalho valorizado. No entanto, ano
após ano, o seu esforço e empenho é cada vez mais mediocrizado.
Este
ano e numa tentativa de mais uma vez anular todo o desempenho docente
(mesmo que não seja essa a real intenção, é a que sentimos), pretendem
chamar todos os contratados a prestar provas de capacidade e competência
para serem professores. Profissão em tantos contextos já exercida,
tantas vezes adaptada, atualizada, modernizada, melhorada...
gritantemente dizendo - "Deixem-me ser professor!" Mas não deixam. Todos
os feitos que deviam estar encabecados no currículo adquirido,
mostrando a todos o nosso valor, permanecem na nossa memória apenas, e
na memória de alguns daqueles que connosco trabalharam e ainda hoje,
nesta conjuntura, nos animam dizendo: "Deus queira que tenhas colocação,
pois tu mereces!" A eterna questão que fica é: será que basta
merecer?! De que nos vale o esforço se continuamos a ver os nossos
sonhos adiados...
Será
que não seria justo TODOS os professores (efetivos, vinculados,
contratados) serem efetivamente, todos os anos, avaliados pelo seu
desempenho? Sendo que a essa avaliação devia estar subjacente a sua
efetiva permanência na escola pública! Desculpem-me, estou DEMASIADO
FARTA de trabalhar trabalhar trabalhar e todos os anos ter de me deparar
com a incerteza de uma colocação. Certa, porém, de que alguns (repito,
alguns!) lugares efetivos foram tidos como adquiridos sem o menor
merecimento.
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