segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Hoje desfaço 33 anos!



"(...)a celebração de mais um ano de vida é a celebração de um desfazer, um tempo que deixou de ser, não mais existe. Fósforo que foi riscado. Nunca mais acenderá. Daí a profunda sabedoria do ritual de soprar as velas em festas de aniversário. Se uma vela acesa é símbolo de vida, uma vez apagada ela torna-se símbolo de morte. O que não entendo é a razão pelo qual os participantes, diante das velas apagadas, se põem a bater palmas e a rir, quando ser seria que chorassem. Eu prefiro um ritual mais alegre: acender uma vela bem grande, como um bruxedo de invocação dos anos ainda não nascidos cujo número não sei!" (Rubem Alves, As Cores do Crepúsculo, 2004)

Engraçado, a partir de determinada altura da minha vida, sempre que faço, ou melhor desfaço, anos tenho um noite nostálgica, tenho um dia nostálgico... penso com nostalgia em todos os momentos "desfeitos" na minha vida. Esta noite recuei 10 anos. Pensei nos meus 23 anos. Onde estava? O que fazia? O que pensava? O que perspectivava? Consegui responder a todas as questões. Mas uma coisa me ficou, "cheguei onde estou por caminhos que não planeei". As palavras não são minhas mas definem o que sinto. Nostalgia. 
Com 23 anos a minha vida deu uma grande volta. Apanhei um avião e rumei a uma terra onde não conhecia ninguém, para viver uma vida longe do conforto da família. Estava por minha conta e só de mim dependia. Por muitos anos defini como sendo o momento mais angustiante da minha vida, chegar a um aeroporto desconhecido, empurrando um carrinho de malas, olhar para todos os lados e não ter ninguém à minha espera. Como não podia ter ninguém à minha espera, se era aquela a minha nova casa?! Não tinha. Na minha mão, apenas um papel, que sem linhas riscava - " Hotel Duas Torres". Na verdade foi um dos momentos mais importantes da minha vida. Iniciava uma nova vida. Um nova etapa. Devo dizer com toda a sinceridade, com todas as lágrimas que agora me caiem, trazidas pela nostalgia deste momento, que nessa terra onde ninguém me esperava, vivi dos melhores anos da minha vida... É neles que hoje  penso, volvidos 10 anos desse momento que defini como angustiante. Tenho saudades dessa minha terra! Tenho saudades de vocês, meus amigos, minha gente, minha família!

A vida não volta atrás. É mesmo como um fósforo riscado, que nunca mais se acenderá. Temos de vive-la intensamente. Todos os momentos como sendo únicos e depois acender uma vela bem grande e invocar todos os anos que hão-de vir, que felizmente não sabemos quantos, mas que almejamos que sejam muuuuuiiiitos. Deixo-vos com um poema de alguém* - "Instantes":

"Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser perfeito; relaxaria mais.
Seria mais tolo do que tenho sido; na verdade,
bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiénico.
Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvetes e menos lentilhas,
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente
cada minuto de sua vida; claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabes, disso é feita a vida, só de momentos,
não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termómetro,
uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas;
se eu voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço
no começo da primavera, e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vida pela frente.
Mas vejam, tenho 85 anos
e sei que estou morrendo..." 


Resta-me agradecer à minha filha, que amo mais do que tudo no mundo, ao meu marido, à minha família, aos meus (poucos, mas bons!) amigos por partilharem comigo esta vida, por vezes turbulenta, mas que "cada momento de beleza vivido e amado, por efémero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade." 
Obrigada!





*Este poema, lindíssimo, foi atribuído a José Luís Borges, no entanto outras vozes dizem que será  Eustáquio Gomes. Para mim é de alguém, não interessa quem, alguém que definiu em sábias e comoventes palavras o sentido da vida. Esta é a essência.

4 comentários:

  1. Muitos parabéns madrinha. Sou eu a Inês Sousa.És a madrinha mais linda do mundo... e quando tu fazes anos nunca se apaga uma vela acendem-se mil... uma beijica :)

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  2. Obrigada minha querida! Adoro-te! Mil beijos

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